Escrito por Manuel Moniz |
Quarta, 02 Novembro 2011 16:35 (Diario dos Açores online)
O Governo Regional decidiu lançar o concurso público para as obras de “ampliação, reordenamento e beneficiação do Porto de Rabo de Peixe”, num investimento global de 17 milhões de euros.
Era secretário da Agricultura e Pescas Fernando Lopes. E apesar da oposição declarada de todos os pescadores locais, tendo apenas a concordância da associação Porto de Abrigo, o Governo avançou com a obra no local actual. A empreitada pretende “garantir melhores condições à comunidade piscatória desta vila do concelho da Ribeira Grande, através de um aumento das facilidades logísticas e da ampliação e reforço da operacionalidade do porto de pescas”. Essa é a interpretação governativa. Mas basta olhar para a história daquele porto para se perceber que o que está realmente em causa é a tentativa de resolver um erro que foi cometido pelo 1º governo de Carlos César, e que já custou cerca de 9 milhões de euros. Na realidade, este é um caso flagrante de oposição entre políticos e a população. O projecto vem do tempo dos governos do PSD, quando era secretário regional da Agricultura e Pescas Adolfo Lima. A sua proposta de localização foi de imediato rejeitada pelos pescadores, que garantiam que a operacionalidade do futuro porto, a ser construído daquele modo, seria fortemente prejudicada. As reuniões foram em geral inconclusivas, com o governante a apresentar sucessivamente novas alternativas. Quando o PS ganhou as eleições, o tom mudou. E a partir de determinada altura, o Governo parece ter decidido avançar com o porto, quer os pescadores quisessem, quer não. O resultado foi o que os pescadores previam: uma desgraça. E se antes conseguiam sair para a faina com ondas até 4 metros de altura, a partir de agora com mais de 2,5 metros já não podiam sair para o mar. Aliás, em situações de mau tempo mais cavado, é mesmo um perigo ter um barco naquela enseada. E aquele porto é talvez aquele que é mais banhado do mundo, por cima, pelas ondas do mar... Qual foi o erro? A localização, como sempre disseram os pescadores. É que aquela enseada tinha uma espécie de “corredor”, que abrangia a zona mais funda da baía, e que permitia as manobras com o tempo mais difícil. Acontece que o porto foi construído exactamente por cima desse “corredor”, inviabilizando definitivamente a mais-valia com que a natureza havia dotado aquela baía – aliás, a própria razão de ser do desenvolvimento daquela comunidade piscatória. A solução dos pescadores limitava-se a construir o porto numa zona mais saída. Quando nesta legislatura o Governo começou a anunciar que iria voltar a investir naquele porto, as vozes dos pescadores fizeram-se também ouvir. Desta vez, no entanto, o próprio Presidente reconheceu que era necessário escutá-los. A questão é se desta vez eles deveriam ser os únicos a ser ouvidos. Não se sabe ao certo qual é a solução encontrada, mas tudo indica que se trata de fazer um “contra-molhe”, que eventualmente irá melhorar a funcionalidade do porto. Alegadamente. Porque, na realidade, ele irá representar a morte de outra das principais potencialidades daquele local: a prática de surf e, consequentemente, o turismo. Não são muitas as vilas do mundo que se podem dar ao luxo de organizar competições de surf na sua “baixa”. E também não será o caso de Rabo de Peixe, apesar de, até há apenas 10 anos atrás, reunir todo o potencial para isso. O facto é que, apesar de se ter perdido aquela que era considerada “a melhor onda de S. Miguel”, ainda restaram duas zonas de surf que mesmo hoje asseguraram o título de “Onda Rainha” da ilha de São Miguel, sendo “o último reduto dos praticantes nos dias em que a ondulação atinge, na costa Norte, tamanho superior a 3 metros”, como se lê num estudo realizado pela Associação SOS Salvem o Surf. “A profundidade da baía origina um canal seguro de acesso à zona de surf. Com efeito, aqui se apanham das maiores ondas surfáveis em São Miguel”. É por isso que a comunidade de surfistas regionais está de olho nesta obra como se fosse a mais importante onda do mundo. E através das redes sociais, já se começam a movimentar. A associação SOS Surf chegou mesmo a apresentar uma proposta de alteração daquele porto, que permitisse salvaguardar a vantagem competitiva que aquela baía tem ao nível do turismo, destacando os importantes impactes na vida social da freguesia. Não se sabe se o projecto a teve em conta mas pelas reacções que já se vão lendo, tudo indica que não. A verdade é que estamos autenticamente perante a construção de um segundo porto naquele local. E não existe suficiente informação para se compreender se houve algum estudo prévio que garatisse que o sector turístico de Rabo de Peixe não será também estrangulado. Pelo que se sabe, o Governo prepara-se para gastar ainda mais do que o que gastou no primeiro porto, comprometendo definitivamente a conjugação da actividade piscatória com as actividades de lazer. Será para se arrepender, de novo, mais tarde? Tarde demais?
Fonte e texto original: Diario dos Açores online
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quinta-feira, 3 de novembro de 2011
"Rabo de Peixe: Governo quer criar erro de 17 milhões para tentar corrigir erro de 9 milhões"
2 comentários:
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tão triste o mundo em que vivemos...
ResponderEliminarPolítica = Poluição
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