sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"Procurando patrocínios ou usando verbas disponíveis: Billabong Azores Islands Pro podia ter contado com surfistas açorianos se a organização pagasse as taxas"

07 Outubro 2011 [Opinião]
"Após ter sido confrontado com um pseudo esclarecimento conjunto da USBA e DAAZ eventos, que mais não é do que um exercício de fraca retórica, repleto de omissões, manipulações e fugas à verdade, publicado na edição do dia 1 de Outubro, do Jornal Correio dos Açores, em resposta a um dos pontos do meu artigo de opinião, “Pouco profissionalismo”, em que versei sobre o “Azores Islands Pro”, publicado no Correio dos Açores a 29 de Setembro de 2011, cabe-me repor a verdade dos factos. Não fosse o objectivo de um cabal esclarecimento dos leitores do Correio dos Açores, de modo a que estes não sejam alvo de uma vil manipulação que mais não foi do que uma tentativa de ataque pessoal, mentindo para ocultar incompetências e deslumbramentos vários, não me deteria nem perderia tempo com tamanhas provas de desonestidade intelectual e desfaçatez demonstradas.
No referido comunicado, são-me endereçadas algumas críticas de manipulação e omissão de factos, bem como de ignorância e de ter levantado suspeições ridículas. Passo a desmontar, ponto por ponto, todas estas críticas e quem analisar de uma forma séria e desprendida todos os factos, chegará rapidamente à conclusão de que a minha argumentação tem razão de ser e só quem vive numa realidade paralela, inebriado pela ânsia de exposição e de recalcamentos vários é que podem achar que têm razão.

Ponto 1 – Apoios financeiros. É ridículo e lamentável que num ponto tão concreto, se consiga mentir
 tanto, com o objectivo de manipular a opinião pública. O comunicado refere que o apoio dado pelo dinheiro de todos os Açorianos “não cobre sequer o total dos prémios financeiros da prova: 250.000$ US dólares para o masculino e 35.000$ US dólares para o feminino”. Desta forma, o valor total dos prémios é de 285 mil dólares. Neste ponto, é constrangedor, se fosse ignorância até se desculpava, mas neste caso é mesmo de má-fé, que se considere que dólares e euros sejam a mesma coisa, pois numa conversão simples, podemos perceber que só o apoio da Direcção Regional de Turismo ascende a mais de 333 mil dólares, acima portanto das necessidades da totalidade dos prémios financeiros da prova. Como referido no comunicado, o apoio da DRT foi “apenas para o retorno promocional do evento”, portanto, financiou o quê? Mentindo de novo e numa tentativa desesperada de justificar o valor dos apoios, refere-se sem qualquer conhecimento técnico, estatístico ou comprovado por factos, de que “já para não falar da cobertura ao vivo via internet, que chega a movimentar cerca de 3 Milhões de espectadores, no mundo todo”. Recordo aqui as declarações do Presidente da autarquia Ribeiragrandense, que afirmou que a CMRG iria aumentar os apoios ao evento no próximo ano, pois teve conhecimento por parte de organização de que estiveram cerca de 400 mil pessoas a assistirem à prova pela internet (in AO, 2 de Outubro), longe portanto dos 3 milhões, que de uma forma displicente e numa tentativa de ludibriar os Açorianos, se afirmou. Mais, ao que parece e a fazer crer no comunicado da USBA e DAAZ eventos, a USBA não trouxe qualquer mais-valia organizativa, pois é referido que “é a DAAZ eventos que detém a licença da ASP para a realização da prova”. Estamos outra vez numa tentativa de dissimulação. Analisando o regulamento da ASP, pode-se rapidamente constatar que qualquer entidade, desde que assuma determinados custos com a organização e pague o valor das licenças, poderá deter as mesmas, com a única restrição de se limitar a dois eventos anuais por país/região. Portanto, poderia ser a USBA, ou qualquer outra associação de desportos de ondas nos Açores, quem sabe, mais defensoras dos interesses Açorianos. O facto da USBA estar refém da DAAZ eventos para a organização desta prova, apenas se deve ao facto da complexidade acima das capacidades cognitivas dos organizadores, pois teriam que estudar os assuntos e preparar o processo, além de que, como defendem publicamente, não têm, imagine-se, credibilidade para uma candidatura própria. Mas ao que parece, não têm necessidade, pois há dinheiro que sobra e sempre dá para se pagar a entidades externas… Ainda neste ponto, e tendo em conta que existiram financiamentos públicos, seria interessante sabermos os termos da co-organização do evento, ou seja, o que ganhou a DAAZ eventos e o que deu a USBA? Quanto nos custou trazer o evento para cá? Quanto é que a DAAZ eventos recebeu, dos nossos dinheiros, para aceder à realização da prova na região e quanto lhes custou a licença para organizar o evento? Assim, analisando o que acontece noutros locais onde decorrem estes eventos e nos custos assumidos pela organização, retirando os prize-moneys, sobram ainda cerca de 71 mil euros de puro financiamento público (DRT e CMRG, in AO, 26 de Setembro), no meu entender excessivo, para assegurar apenas o “staff técnico e cobertura mediática”, excluindo os apoios da companhia aérea SATA Internacional e não me detendo sobre a longa lista de financiamento privado, entre os quais uma empresa de serviços de televisão por cabo, conforme se pode verificar no comunicado da organização do evento. Ora, onde foi gasto, em que percentagem e onde pára o excedente dos dinheiros públicos?

Ponto 2 – Participação de atletas Açorianos. Ridículas são as justificações dadas. Como ficou provado pela verborreia do esclarecimento da USBA e DAAZ eventos, era perfeitamente possível que o Billabong Azores Islands Pro contasse com a participação de surfistas Açorianos. Aliás, existindo várias entidades regionais que financiaram o evento e uma que o organizou, poderiam pura e simplesmente promover a participação de um, ou mais, atletas Açorianos, desde que fossem investidos nestes atletas as taxas necessárias, abaixo dos 1300$ USD referidos no comunicado (mais uma mentira, pois depende do tipo de atleta) e promovessem a sua inscrição, um mês antes do evento. Portanto, não se estaria a subverter ou manipular quaisquer regras e só entidades que não defendem os interesses dos Açores nem se preocupam com a evolução dos atletas Açorianos é que considerariam a inclusão de um Açoriano a competir como “uma atitude desesperada e grosseira”. Analisando toda a informação disponibilizada pela ASP, incluindo os regulamentos, é perfeitamente notório que é incentivada a participação de atletas locais e amadores, referindo que o surf é o “desporto mais democrático de todos”, seja através da atribuição de “wildcards”, seja unicamente pela inscrição no evento. Portanto, a afirmação de não termos atletas com qualidade suficiente, é manifestamente ridícula e que lesa os interesses dos Açorianos, bem como vai contra o espírito do evento, de incentivar a prática do desporto, de animar a comunidade local e de desenvolvimento de competências nos surfistas. Mas se não bastassem já estes argumentos, a USBA teve ao seu dispor três “wildcards”, ou seja, três convites sem qualquer restrição, tendo optado por convidar três atletas externos à região, um dos quais, nem se dignou a comparecer. Tendo uma associação de ondas dos Açores como um dos organizadores da prova e considerando este evento com tanta importância para o turismo e surf Açorianos, com a possibilidade de divulgar atletas da Região e usufruindo de financiamentos públicos, justifica-se que tenha optado por não convidar nenhum atleta dos Açores? Bastaria para o efeito investir nestes atletas menos que 900 euros na sua inscrição na ASP e no próprio evento. Ainda a propósito desta situação, como se pode aceitar que a USBA e DAAZ eventos, avaliem de forma tão negativa os surfistas da região, que nem potencial têm, afirmando que “não há nos Açores nenhum surfista com capacidade, talento ou potencial para correr este circuito e participar nesta prova”. Não se compreende como existem três associações de desporto de ondas nos Açores e uma delas, em parceria com uma empresa organizadora de eventos, arrase por completo o trabalho desenvolvido por todas, passando inclusivamente um atestado de incompetência a si próprios, pois esta associação de desportos de ondas conseguiu fazer o inverso do que se pretende. Diminuir a qualidade dos atletas de surf na região entre 2009 e 2011, pois em 2009 convidou dois atletas da Região para a competição. Em 2011, esta organização, de uma forma precipitada e irresponsável, defraudou as expectativas dos surfistas Açorianos e avaliou os atletas de surf nos Açores de uma forma medíocre, algo contraditório com o que deveriam ser os objectivos da associação. Resta saber o que anda a USBA a fazer pelo surf nos Açores… Não deixa de ser ridículo, tal a desorientação evidente, pois na tentativa de justificar o seu trabalho, refere-se que a USBA organizou competições que elegeram campeões regionais, por três anos consecutivos, que não têm qualquer qualidade, segundo se constata no comunicado. Não deixa de ser ridículo, quando é afirmado que “temos a firme convicção de que quando isso acontecer (haver um ou mais surfistas dos Açores a participar nestas provas) terá sido, também, fruto da possibilidade que tem sido dada nestes anos aos surfistas dos Açores, de São Miguel em particular, de poderem ver ao vivo, treinar e conviver, nas suas ondas, com alguns dos melhores atletas do mundo”. Como? Se os próprios atletas dos Açores não competiram nem foi incentivada ou possibilitada a sua participação? Mais, o argumento de que os atletas dos Açores não têm qualidade para participar, cai por terra, pois todos os convites que a organização fez, os “wildcards”, a fazer crer no que vem na comunicação social, foram eliminados na primeira ronda, excepto um, que nem se dignou a comparecer. Portanto, seria impossível, aos eventuais concorrentes dos Açores, fazerem pior figura. Fosse a USBA e a DAAZ eventos zeladoras dos interesses dos Açorianos e não estivessem deslumbradas com o contacto com “celebridades”, poderiam organizar este evento atempadamente, utilizando parte da verba dos patrocínios para proceder à inscrição de atletas Açorianos.

Ponto 3 – Retorno financeiro. Infelizmente o comunicado fala em banalidades, sem nunca referir os montantes envolvidos, o que não deixa de ser sintomático, nem apresenta os rácios que diz serem positivos. Portanto, não havendo dados concretos e a fazer crer no que este tipo de organização custa noutros países, continuo a dizer que é um financiamento milionário, acima do necessário para a realização do evento, ainda por se justificar em tempo de graves carências sociais e que é um custo que se “esvai por entre os grãos de areia”. Não apresenta qualquer retorno, pois organizou-se uma competição de surf, sem conseguir promover a modalidade na região ou a participação de um qualquer atleta Açoriano. Recordo o que acima referi: sobram cerca de 71 mil euros de puro financiamento público para o staff e estrutura do evento. Exagerado. Para haver retorno, apelo a que consultem no site da ASP os eventos, semelhantes ao que ocorreu nos Açores, espalhados pelo mundo e percebam o excelente e extenso programa paralelo à competição de desenvolvimento local, de integração social e respeito ambiental, com contactos com as populações, com exposições, conferências, aulas de surf para jovens das escolas locais, etc. Aí sim, teríamos um evento com qualidade, que permitia envolver e desenvolver toda a comunidade local, pois ao contrário da USBA e da DAAZ eventos, acho que não é através da observação, mas sim da prática, da troca de experiências e do contacto com os atletas que nos visitam que permitem a nossa evolução neste desporto. Esta organização transformou um evento de alto gabarito e enorme responsabilidade social, ambiental e desportivo, num mero negócio.
Basta! Não podemos continuar a financiar eventos, com a desculpa oportunista de promoção turística, sem que estes promovam as várias áreas passíveis de desenvolvimento na Região. A este propósito, aconselho a leitura do excelente artigo de opinião, de Daniel de Sá “Carta a Ramalho Ortigão, com alguns lamentos turísticos”, onde se insurge contra o facto de a troco de utilizarmos a capa do turismo se justificarem todos os gastos. Ao contrário da USBA e DAAZ eventos, não considero que as associações representativas da sociedade civil, sejam de surf ou outras, apenas sirvam de meros organizadores de eventos, esquecendo os propósitos que as deveriam nortear e que, neste caso específico, apenas serviu para o triste papel de angariador de subsídios, para deleite de poucos e aceitando com leviandade a subalternização evidente dos Açores e dos interesses Açorianos.
Como facilmente se constatou, devolvo as acusações de ignorância, omissão e manipulação de informação e suspeições ridículas, assentando estas sim como uma luva na USBA e DAAZ eventos, às quais acrescento a minha incredulidade pela forma pouco séria com que lidaram com os interesses dos Açorianos e como nos tentaram ludibriar, apesar de estarem a receber financiamento da Região e de todos os Açorianos. Assim não…"

Autor: Paulo do Nascimento Cabral
Fonte e texto original retirado do Correio dos Açores de 7.10.2011

3 comentários:

  1. Woww! Não sei quem é este Paulo Cabral, mas ele e o Rui Cabral estão de Parabéns!!! Faço uma vénia a estes dois por reporem a verdade deste evento que só trás crowd ás nossas ondas e enche os bolsos de Herédias. Muito obrigado a vocês..!!

    PS: faço 2 vénias a quem os mandar embora daqui.

    ResponderEliminar
  2. Só uma duvida!
    Eu penso que quando a Câmara do Comércio e Indústria dos Açores realiza o irc tem que apresentar contas? Então onde estão essas contas da dazzeventos dos últimos 3 eventos ou como é uma empresa do continente já não é preciso???

    ResponderEliminar
  3. Portanto e visto existirem tantas dúvidas acerca da utilidade da USBA na defesa do interesse dos surfistas locais proponho que no próximo campeonanto regional organizado pela mesma se esclareça em assembleia prévia ( se existir essa possibilidade ) o sucedido. As conclusões, tiradas para o positivo ou para o negativo, deverão ser avaliadas e assumidas pelas partes envolvidas teminando assim uma longa lista de acusações. Em altura de crise severa e onde o trabalho e o dinheiro escasseiam penso ser importante dar ao povo açoriano ( o pouco interessado no assunto visto que a maior parte nem às urnas vai para votar ) a segurança de que o dinheiro do erario público foi bem gasto. A diferença, motivação e nível de profissionalismo e orgulho entre um Açoriano que pertença ao corpo directivo da USBA é na sua essência diferente de qualquer outro da DAAZ bem como as suas responsabilidades. Caso seja apurado que tudo foi feito às claras e com competência proponho então que seja dado um voto de confiança público ( em sede própria ) à USBA.

    Prefiro acreditar que a USBA defende o povo Açoriano e os seus interesses a acreditar que se terá omitido a essas funções no ultimo campeonato da ASP em São Miguel.

    Um abraço e boas ondas com energia positiva e apreço pelo cantinho maravilhoso que aqui temos no meio do Atlântico e que pelos vistos tanto interessa aos estrangeiros.

    RVSS

    ResponderEliminar

Por opção editorial, o exercício da liberdade de expressão é permitido, excluindo,todos os comentários anónimos com linguagem inapropriada, considerada abusiva, que serão imediatamente apagados. Nas caixas de comentários abertas ao público disponibilizadas pelo Wave Riders Açores em www.waveridersacores.com. Os textos aí escritos podem, por vezes, ter um conteúdo susceptível de ferir o código moral ou ético de alguns leitores, pelo que o Wave Riders Açores não recomenda a sua leitura a menores ou a pessoas mais sensíveis.

As opiniões, informações, argumentações e linguagem utilizadas pelos comentadores desse espaço não refletem, de algum modo, a linha editorial ou o trabalho do Wave Riders Açores.

O Wave Riders Açores reserva-se o direito de proceder judicialmente ou de fornecer às autoridades informações que permitam a identificação de quem use as caixas de comentários em www.waveridersacores.com para cometer ou incentivar atos considerados criminosos pela Lei Portuguesa, nomeadamente injúrias, difamações, apelo à violência, desrespeito pelos símbolos nacionais, promoção do racismo, xenofobia e homofobia ou quaisquer outros.